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Uma data para valorizar as pessoas e o conhecimento

Rafael Cervone*

O Dia do Trabalho, além da celebração intrínseca ao seu significado histórico, representa este ano um desafio para o País. Afinal, é premente resgatar do desemprego mais de 12 milhões de brasileiros, contingente superior a 11% da população economicamente ativa. Para isso, precisamos conter o avanço da inflação, dar continuidade às reformas estruturais, equilibrar melhor as taxas de juros e evitar tantas oscilações no câmbio, reduzir a burocracia e aumentar a segurança jurídica, pautas basilares da agenda nacional.
Independentemente da urgência dessas medidas, cabe destacar, por justiça, a resiliência, competência e coragem de todos os que, nas fábricas, lojas, instituições de saúde, financeiras e de serviços, no meio rural, organismos públicos, escolas ou atuando de modo remoto, mantiveram o Brasil vivo. Sem falar, em especial, dos trabalhadores na área da Saúde. Com muito empenho e força, todos foram determinantes para o enfrentamento e superação da crise da Covid-19, cujos impactos ainda são graves, agora acrescidos pela invasão da Rússia à Ucrânia. Estou falando de gente! Refiro-me não apenas aos colaboradores das empresas, mas também aos empregadores e gestores, pois lutamos todos juntos pela retomada do crescimento sustentado.
Em meio às adversidades, percebemos como nunca o valor do trabalho e seu significado como o mais eficiente e digno meio de inclusão socioeconômica e acesso pleno às prerrogativas da cidadania. Seu objetivo, sempre, deve ser focado no bem-estar dos indivíduos e da sociedade. São pessoas somando esforços e competências para o benefício de todos. Sim, o ser humano é a grande essência e o fim de todas as atividades e organizações.
Pensando nisso, é fundamental, em paralelo às medidas estruturais da agenda brasileira, capacitar os trabalhadores para as mudanças rápidas que se observam na produção e no consumo. Digitalização da economia, internet das coisas, machine learning, inteligência artificial, robotização e drones serão cada vez mais presentes no advento da chamada Manufatura Avançada.
Os profissionais precisam estar aptos a atuar em ambientes de alta tecnologia, num cenário disruptivo da estrutura laboral. A prestação de serviços nem sempre será presencial ou para empregador único. As pessoas poderão (muitas já estão), a partir de suas casas, atender várias empresas, não necessariamente na mesma cidade, estado ou país. Portanto, há uma grande demanda relativa à formação e à capacitação. Precisamos, também, atualizar a CLT, pois, a despeito da reforma já realizada, segue anacrônica e focada na proteção do emprego. Mas, a partir de agora, necessitaremos de uma legislação que garanta o trabalho.
Para o atendimento às rápidas e profundas transformações em curso, a preparação dos futuros trabalhadores deve começar na infância. Muitas crianças e adolescentes de hoje terão profissões que sequer foram inventadas. Em ambientes cada vez mais desafiadores, precisarão ter inteligência emocional, flexibilidade, espírito de equipe aguçado e alta capacidade de interação com pessoas de idades, perfis e culturas diferentes. Deverão saber lidar melhor com diversidade, pressões e desafios do cotidiano. Tais virtudes exigem um novo mindset.
Enfatiza-se, assim, o quanto é decisivo melhorar a qualidade do ensino no Brasil, desde a Educação Básica, até a superior e técnica. Como parâmetro, temos exemplos de excelência, como os do Senai, Sesi e outras instituições do Sistema S. Não basta investimento em tecnologia de ponta. São sempre as pessoas que fazem a diferença. Portanto, sua capacitação, por meio do conhecimento, é prioritária. Provê-la é uma responsabilidade intransferível e inadiável do poder público, empresas, entidades de classe e toda a sociedade. Trata-se da mais importante ação estratégica para vencermos o desemprego, promovermos ampla inclusão socioeconômica e celebrarmos o Dia do Trabalho com esperança renovada.

*Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).

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