Em 2024, o Hospital Municipal Infantil Menino Jesus (HMIMJ), voltado exclusivamente ao público infantil, realizou 86.648 consultas em seu ambulatório. Parte importante destes atendimentos é feito a pacientes de longa data, muitos com doenças crônicas, que permanecem sob os seus cuidados praticamente desde que nascem até completarem 18 anos, quando recebem alta do hospital.
Foi com o objetivo de preparar estes adolescentes para a nova fase, que a equipe do Menino Jesus criou o Grupo de Transição de Alta Hospitalar.
São três encontros, realizados sempre na última sexta-feira do mês. Participam até doze jovens que já completaram 17 anos e meio, além de profissionais do ambulatório do Menino Jesus, como a equipe de Psicologia. “A estratégia do grupo veio da dificuldade de dar alta a estes pacientes quando eles completavam 18 anos, depois de tantos anos de cuidados numa única unidade hospitalar. Entendemos então, que precisávamos de um período de preparação para que eles pudessem elaborar essa transição”, comenta a superintendente médico-assistencial do Menino Jesus, a pediatra Jamile Brasil.
Elizabeth Valdivino da Silva começou a ser atendida no Menino Jesus aos dois meses de idade e está prestes a completar 18 anos. Diagnosticada com doença falciforme ainda bebê, passou por internações e incontáveis consultas, e precisará de acompanhamento por toda a vida.
Para ela, que mora em Francisco Morato, na Grande São Paulo, a chegada à idade-limite para atendimento no hospital pediátrico é motivo de ansiedade, mas a experiência com o grupo mostrou-se apaziguadora. “O Menino Jesus vai deixar um vazio no coração, é como se fosse a minha segunda casa, mas vi que tem outras pessoas com a mesma vivência, isso me deixou mais tranquila”, diz a paciente, que é estudante e cursa o Ensino Médio.
“O grupo foi criado há quase um ano, e o que observamos é que ele funciona tanto no processo físico, que é de orientar os jovens sobre como podem dar sequência ao seu acompanhamento na rede pública, quanto no simbólico, que é sair da adolescência para a vida adulta, quando eles terão que assumir mais responsabilidades pelos cuidados com a própria saúde”, comenta a psicóloga Carla Kuhne.
Ela acrescenta que, mesmo após a alta, no entanto, a equipe do Menino Jesus segue em contato com os jovens para saber como está a continuidade do tratamento, os estudos e trabalho.
Além das conversas e trocas proporcionadas pelo Grupo de Transição de Alta Hospitalar, outro ritual cumprido, este no terceiro e último encontro, é a entrega de um certificado de participação aos adolescentes, além de uma versão compilada do seu prontuário, para o momento em que buscarem sua Unidade Básica de Saúde (UBS) para acompanhamento ou encaminhamento a outro serviço. “No final todos choram”, diz a médica hebiatra Sofia Simão, que, além do atendimento aos adolescentes, também acompanha os encontros.
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