Nem a natureza admite o maniqueísmo. Assim a chuva: quando pouca, é salutar. Purifica o ar. Garante o abastecimento de água. Traz vida às plantas. É essencial.
Mas o excesso de chuva é prejudicial. Chega a matar. É o que, infelizmente, estamos a vivenciar nesta era de emergências climáticas. A ciência alertou, nós não fizemos conta. Agora é a natureza que responde. E está muito brava conosco.
São Paulo tem um esquema bastante consistente para evitar as más consequências das precipitações pluviométricas violentas. É o PPCV, Plano de Prevenção de Chuvas de Verão, que congrega quase todas as secretarias municipais, coesas para prevenir males maiores.
Saúde e Defesa Civil atuam de forma contínua e devotada. Suas equipes realizam avaliação das áreas de potencial afetação e atendem à população exposta. Visitam os imóveis para levantamento das necessidades de saúde e orientação quanto aos cuidados pós-chuva, limpeza e desinfecção. Avaliam os serviços atingidos, principalmente para que não se interrompam os préstimos dos equipamentos de saúde.
Nas chuvas da véspera do aniversário da cidade foram atingidas 73 residências. Houve visita a 1.074 imóveis, com orientação a 903 pessoas sobre os cuidados ante inundações e alagamentos. Principalmente quanto às doenças decorrentes do contato com a água. Além de procedimento de descarte, limpeza e desinfecção de utensílios, domicílio e estabelecimentos do entorno. Distribuiu-se o folheto “Cuidados básicos em relação às enchentes”.
Durante todo o período do Plano de Prevenção, 135 pessoas foram afetadas, 13 desalojadas. Mas, lamentavelmente, notificados seis óbitos. Queda de árvore de grande porte sobre o veículo no Jardim Helena. Um homem foi arrastado pela enxurrada na travessa dos Mistérios, em Itaquera. Outro, eletrocutado quando saiu do veículo atingido por fio de alta tensão na rua Pedro de Toledo, em Moema. Outro caiu no Ribeirão Lageado, na avenida Francisco de Góes Araújo, Guaianases. Uma mulher teve a casa na travessa Maria Pinto Labiapori invadida por enxurrada.
É triste constatar mortes por causa das chuvas. Por isso, São Paulo precisa de todos. Vamos atender aos avisos da Defesa Civil. Vamos nos comunicar com os vizinhos. Vamos socorrer os que precisam. É o nosso espírito de solidariedade que testemunha o nosso grau civilizatório. E procuremos plantar mais árvores, que elas nos ajudam a nos precaver em relação às respostas que a natureza ferida nos encaminha.
É o que podemos fazer, depois de séculos de insensatez e insanidade no trato com o ambiente.
José Renato Nalini
(Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-executivo de Mudanças Climáticas de São Paulo)
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