O Brasil é um dos países com a maior diversidade de fauna silvestre do mundo. Essa riqueza, no entanto, desperta a cobiça de contrabandistas, responsáveis pelo comércio ilegal de ao menos 38 milhões de animais todos os anos.
Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), de cada dez animais contrabandeados, apenas um sobrevive.
São três os principais destinos para os animais vítimas do contrabando (embora existam outros): colecionadores particulares e zoológicos; revenda de lojistas e para fins científicos (biopirataria).
Entre as principais espécies contrabandeadas para atender à demanda de colecionadores particulares e zoológicos, figuram pássaros como a arara-azul-de-lear, o mico-leão-dourado e a jaguatirica, todos na lista de espécies ameaçadas de extinção.
Isso significa que o contrabando de animais silvestres além de se configurar como uma grave ameaça à saúde destes indivíduos, também coloca em risco a sua própria existência enquanto espécie, com reflexos indiscutíveis sobre o equilíbrio socioambiental.
Jiboias; tartarugas; pássaros como tucanos, araras, periquitos e pequenos macacos como o sagui, figuram entre os mais traficados como pets, mas, como animais silvestres que são, têm necessidades específicas que não podem ser atendidas em um ambiente doméstico.
O confinamento e a privação do animal de seu habitat natural resultam em estresse, problemas de saúde e comportamentos inadequados, comprometendo seu bem-estar físico e psicológico. Além disso, o convívio com grupos da mesma espécie é essencial para seu próprio desenvolvimento – privados disso, esses indivíduos desenvolvem doenças mentais, se tornando ainda mais agressivos e levando muitos a óbito.
Ao contrário dos cães e gatos, os animais silvestres não passaram por um processo de domesticação, que pode levar milhares de anos e mesmo aqueles que nasceram em cativeiro ainda mantêm as características de um animal selvagem, que pertence à natureza e não a uma casa ou apartamento.
O tráfico de animais silvestres também está associado a sérios riscos à saúde pública, uma vez que estes podem ser portadores de doenças transmissíveis aos seres humanos, como zoonoses e infecções virais.
Por fim, a demanda por animais silvestres como “bichos” de estimação alimenta uma cadeia de exploração e sofrimento em que muitos animais são submetidos a condições de vida precárias, maus-tratos e abandono.
Tratar animais como mercadoria demonstra a desconexão do ser humano com as outras espécies que coabitam o planeta. Vamos respeitar a vida e recuperar nossa humanidade: silvestre não é pet.
NILTO TATTO
(Deputado Federal – PT/SP)
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